CAPÍTULO 29

CIÊNCIA BRASILEIRA

Na Revolução Industrial inaugurada na Europa o tráfico de escravos propiciou ganhos para o capitalismo se desenvolver na Europa e nas Colônias. Das grandes descobertas científicas a partir do Renascimento, foram somente espectadores ou vitimas. Nunca considerados capazes de produzir conhecimentos relevantes.

É imensurável o dano à ciência e aos afrodescendentes – que a ela não podem contribuir ou dela usufruir plenamente – provocado pelo bloqueio da academia brasileira despigmentada à população majoritária do país.

Que mantém, concomitantemente ao apartheid científico, a luta secular contra a ascensão social e econômica lastreada na construção de estereótipos segregadores dos africanos e seus descendentes.

O racismo científico, exportado pela Europa e Estados Unidos para cá, no século XIX, brindou a elite intelectual brasileira com as provas que defendiam a inferioridade de espécie, moral e intelectual, dos afrodescendentes. Era uma barreira ideal de contenção do progresso e integração da afrodescendência.

Decorrente do apartheid acadêmico, institucional, 99% dos cientistas das universidades de excelência (no planeta) são despigmentados. O que me deixa indignado é ver que mesmo nos campos científicos mais variados dessas instituições de excelência, os malefícios e conceitos de raça e racismo continuam inabaláveis.

Para os estudantes afrodescendentes, tanto nas escolas públicas e privadas, o ensino de ciências é despigmentado, emoldurado pelas histórias épicas das suas conquistas e masculinizadas no campo da ciência.

Segundo dados do INEP o número de estudantes afro-brasileiros que se autodeclararam pretos ou pardos matriculados em cursos presenciais associados à ciência e tecnologia, como a medicina e a arquitetura, correspondeu a menos de 20% do contingente total de estudantes que se autodeclaram brancos.

ILUSTRAÇÃO

APARTHEID CIENTÍFICO

É um duplo apartheid decorrente de: primeiro, reconhecem de forma pragmática as fragilidades de sua principal fonte de educação formal, a escola pública, cujo ensino de ciências é praticamente nulo; segundo, a falta de um ambiente familiar e social com tradição acadêmica, inexistência programada de políticas de popularização e acesso à ciência voltadas à conquista desse público.

Não conseguem se imaginar, a si mesmos, como futuros cientistas a contribuir para o avanço da sociedade. Possível são os primeiro ou segundo grau, o máximo que lhes é permitido pelo apartheid (social e econômico) a que estão submetidos.

A relação de cientistas brasileiros despigmentados aqui ressaltados pela sua contribuição à sociedade brasileira não podem ser acusados, generalizadamente, como únicos responsáveis e agentes maiores do apartheid científico que ainda permanece entre nós, acadêmica e profissionalmente.

Eles foram e são produtos de uma ciência vigente (também no campo cultural e social) de uma sociedade primeiramente escravocrata, durante 3,5 séculos, e atualmente apartheizada ao extremo. Como não se pode deixar de citar que não moveram uma palha para acabar com essa realidade horrenda.

Pelos dados divulgados pelo Inep em 2017 quase 400 mil professores davam aulas em universidades públicas e particulares do Brasil, mas só 62.239 delas, ou 16% do total, se autodeclararam afrodescendentes ou pardas.

Já os dados do CNPQ apontam que, entre 2013-2017, menos de 30% dos bolsistas do CNPq eram afrodescendentes. E como se não bastasse isso, a Capes faz e admite uma coleta de dados, por autodeclaração, baseada em raça e cor. Como se esses dois indicadores fossem válidos e qualitativos para qualquer tipo de avaliação.

Uma análise entre 2010 e 2017 com um grupo de professores que se autodeclararam etnicamente comprovou que:

· Nesse período, o número de professores com mestrado subiu de 85.655 para 115.869, sendo que os afrodescendentes respondiam por 20% e 23% desse total, respectivamente.

· Já entre os professores com doutorado, o número absoluto aumentou de 53.006 para 100.354, e a parcela representativa dos afro-brasileiros cresceu de 11,4% para 17,6%.

Em maio de 2016, o Ministério da Educação, instado pela Justiça, publicou uma portaria com prazo fixo para que as universidades e institutos federais elaborassem propostas sobre inclusão de afrodescendentes, indígenas e pessoas com deficiência em seus programas de pós-graduação (mestrado, mestrado profissional e doutorado), como Políticas de Ações Afirmativas.

Os números de 2020 da CAPES, abaixo, são de uma fragilidade inadmissível como estatística e irrelevância como amostragem. Mas é um quadro descrito, reproduzido, citado, em teses, artigos, referências. Não merece sequer crítica, faz parte do padrão de avaliação do Estado-Apartheid.

Somente 2746 se declararam afro-brasileiros; 9909 pardos; 10772 não declararam sua condição; 25208 não deram qualquer informação. Isso dá um número total de 48635 declarações, sem qualquer validade ou relevância estatística.

Números do INEP
Censo e educação superior 2020
8,6mi estudantes matriculados
41.953 cursos de graduação
2.457 instituições de E.S.

Esta nominata de cientistas despigmentados incluída por sua contribuição à sociedade brasileira leva em conta apenas o mérito científico. Mas foram omissos ou apoiadores transversais do sistema? Sim, resultante de uma sociedade primeiramente escravocrata e atualmente apartheizada.

CRODOVALDO PAVAN
www.youtube.com/watch?v=FUYZwsPxJ6g

ADOLFO LUTZ
www.youtube.com/watch?v=_1Sh8EVeaFY

SÉRGIO PENA
www.youtube.com/watch?v=WmBflxK084I

JOSUÉ DE CASTRO
www.youtube.com/watch?v=LFzNVo8KIKg

VITAL BRAZIL
SONJA ASHAUER
BERNARDO BEIGUELMAN
CARLOS ARNALDO KRUG
FRIEDRICH GUSTAV BRIEGER
LUIZ HILDEBRANDO PEREIRA DA SILVA
EMÍLIO AUGUSTO GOELDI
www.youtube.com/watch?v=od3PKjpVFA8
www.youtube.com/watch?v=qNWxOMJzHH0
www.youtube.com/watch?v=nz2cN-mIleQ

ISAIAS RAW
MINIBIOGRAFIAS DE ALGUNS DELES
www.youtube.com/playlist?list=PLAE4zdwPT_XOF1z6XloqPq08894X0l0tO

Cientistas Brasileiros Despigmentados

Para consultas e pesquisas dos censos escolar e superior, docência e instituições de ensino do país, em todos os graus, acessar: